domingo, 31 de maio de 2015

Sábado educATIVO

Rolou a primeira reposição lá na prefeitura de Santo André. Fui pra escola que mirabolou mil oficinas, fiz um fantoche de caixa de leite (o pessoal via um sapo, mas eu sempre atípica enxerguei um crocodilo, vai que por querer contar O Crocodilo e o Macaco). Depois ainda conferi as produções de cadernos artesanais, fiz uma flor que virou uma presilha e ri com as crianças fazendo paródia duma música da Adriana Calcanhoto pra criticar o problema de água (não era bem para se divertir, mas...).
Comi os lanches de lá mesmo e corri pra casa, ensaiei a toque de caixa e fui à Afro Fest Descobrindo África contar Canção da Chuva. Usei mais elementos de cena, me apaixonei pelas bonecas da Cria Criola e saí de turbante, embora não tenha fartura de cachos para tanto. Quase pedi
desculpas por ser branca. Sei não rola meio que um mal estar pelo... que meus antepassados devem ter aprontado? Por me interessar mais pela pesquisa dessa cultura que colegas mais black que eu (isso todo mundo é)?
Saí pensando no que a artesã das bonecas disse "os africanos olham todos como negros, nós é que piramos nisso aqui". E ela também era mais clara e tinha resistência da presença dela lá.
Lembrei do mestre griô na formação do Centro Sesc respondendo quem queria visitar o Mali, a Guiné depois dos três dias cursando "O Conto como Ferramenta Pedagógica":
- Vocês às vezes não estão preparados nem para o Brasil e querem ir à África?
Mil macaquinhos zombando de mim nesse sótão hiperativo que carrego.
Uma amiga chegou depois com filho de colega por ter como eu. se confundido com a entrada.
As crianças pediram mais e piraram nos objetos de cena, minha voz é que estava meio pedindo arrego mesmo.
Partilhei com o namorado uma incapacidade recente de produzir conteúdo literário razoável desde que a contação se instaurou de vez em minha vida, o que é gratificante, mas também dá uma saudade incômoda de parir textões.
Quem sabe melhore na oficina Você Tem que Contar! Usando material da nossa vidinha mesmo para produzir contos, crônicas...
Parece que já fui boa nisso, ou a memória está me tapeando.
"Durma com esse barulho"!

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Tanto movimento prum post só

Há uns dois anos um colega perguntava:
- Sabe quando a palavra não comporta o que acontece?
Não, eu não sabia. Pra mim, na época, escrever abrangia tudo mesmo: paixonites, jornalismo, bem estar de exercício, trabalho voluntário, cursos e amores.
Mas na educação e contação de histórias não.
Por isso ando sumida do blog, "pardon"!
Por exemplo: como vir contar que nesta contação no Momento Leitura de Mauá, na Escola Municipal Florestan Fernandes uma professora disse
que me ouviria a tarde inteira "com essa minha voz"? Que a supervisora perguntou animadinha ao diretor "onde vocês encontraram ela"? Um pátio de crianças e pais me ouviu na tranquilidade que é possível neste espaçao e me encantei com as menininhas interpretando bruxinhas em João e Maria, misturando ingredientes no caldeirão e dando receita "por pouca água que está acabando"? Que encontrei uma espectadora mirim no ponto de ônibus, ela elogiou e contou qual tinha gostado mais?
E então eu entendo o mestre djéli Toumani Kouyaté dizer que a escrita tammbém é uma traição, na formação O Conto como Ferramenta Pedagógica no Centro de Formação do Sesc. Mais ou menos como a tradução.
Não abarca. Mal e mal chega perto.
Ou contar que no finzinho do BiblioSesc, no Centro Cultural de Diadema eu senti que era melhor contar uma com aquelas várias escolas conectadas do que fazer várias narrações e eles se desconcentrarem como estavam ameaçando, da maneira que recomenda o Toumami, que simplesmente canta, conta, ensina, fotografa, forma professor...? Que uma vez neste projeto Que Feminino É Esse? Novas Heroínas contei pra uma menininha na biblioteca volante do Sesc São Caetano e lembro seus olhinhos, atenção e encantamento? Dos assovios no pátio da Escola Oscar Nyemaier de São Caetano?
Que há dois meses no Ensino de Jovens e Adultos de Santo André tenho turma que pede história ao final da aula, já teve professor que pediu contação na reunião pedagógica semanal, cismei que os adolescentes se dispersaram no filme História de Amor e Fúria, mas depois na sala de professores os acharam tão quietos que nem pensaram que estivessem em sala, que tenho dor no coração da turma que só quer desenhar e não embarca noutra linguagem artística, que uma turma que eu e os outros professores adoramos já disse que ficaria comigo lá a noite inteira, trouxe matéria do Brecht no dia da aula dele sem combinar e que a sala cheia e atenta na última turma de sexta me enche o peito dum não sei o que apaziguador?
Que nas creches em que formo professoras em arte e educação me encantei semana passada ao
acordar inspirada ou os pequenos do mini grupo 2 (são 3 anos gente!) cumprirem o combinado de ouvirem váááááárias histórias de livros de pano, plástico, fantoches, dedoches, depois fecharem os olhos e cada um receber um personagem ou livrozinho mais cinestésico que propriamente literário, pois a maioria nem tem autor ou história muito definida, explorarem com poucos desentendimentos e eu conseguir trocar impressões com as professoras? Pois a formação é expressa, quase sempre com elas em sala e nós apagando as ameaças de incêndios entre eles. Que numa parada pedagógica a coordenadora comentou que se decepcionou num curso de contação teórico "pois esperava uma Francine animada e cheia de histórias".?
Perdão gente, não tem mesmo palavra que cabe. Ou desaprendi minhas "literaturices".
Óbvio que nem tudo na educação dos adolescentes e mais velhos que vem encerrar os estudos mais rápidos são flores.
Não preciso nem dizer, mas registro nos autos para a posteridade: entre os adolescentes já atearam fogo em papel na sala, sujaram o corredor e tomaram bronca da gestão, se bateram (nunca sei se brincando ou brigando, pois é um pouco a linguagem dos meninos, ainda que não concorde), fugiram de aula depois que levei sonoridade afro, não fizeram improvisação mesmo sendo uma turma boa, já teve chiados que sou mais criança que os adolescente e com a demora a sair os que mais rendem no fim da noite. Enfim!
A educação é bem bipolar, um dia ficamos no panteão dos deuses, no outro, no limbo, tentando olhar os mais encardidos de modo compassivo.
Minha prima, também educadora, diz que tive mais reconhecimento em pouco tempo na área que na vida toda no jornalismo.
Lá havia algum reconhecimento, mas sempre sutil, subjetivo, pois era de ex colega te passando trabalho de novo, chamando proutro projeto, de leitor ou ex colega de faculdade te dizendo um tempo razoável depois que o texto era bom.
Mas a educação sim é que é tempo real: planeja, adapta, pesquisa, personaliza, levanta, customiza...
E nós pensando que tínhamos criado essa agilidade no Último Segundo do iG.
Ao mesmo tempo, mal estar com a comprovação da sabedoria duma espectadora ansiã da peça duma colega "se tiver uma máquina do tempo, um médico antigo voltar, dirá que não tem o que fazer num hospital cheio de aparelho novo, já um professor de muito tempo atrás, dará aula numa boa em escola de hoje em dia".
Como a gente precisa de renovação por aqui!
E educação é muito como maternidade "ofereçam ajudas, não críticas".
Só que tem sim, uma impressão de que em sala ajudo as coisas a melhorarem e em redação ou divulgação o movimento é de manter tudo como está.